quinta-feira, 10 de maio de 2012

E o que te basta?


(...)

E a menor então com um olhar expressivamente forte, lançou :
- " Mas porque você está aqui? Digo, no mundo... Já pensou no motivo da sua existência? Ou acha que foi o sexo que te trouxe ao mundo?

A outra lhe sorriu leve. Abaixou a cabeça, cerrou os lábios delicadamente e novamente ergueu a cabeça deixando que seu olhar penetrasse fundo, no mais longe que pudesse chegar do olhar daquela que já lhe fitava.

- " Continuarei achando que você pensa demais. Engraçado que não fala muito. Esconde muita coisa de mim?

A pequena permaneceu sem reação. Moveu a cabeça negativamente e prosseguiu:
- " E então você me entrega cem porcento do que tem? do que é?"

Novamente a maior sorriu. Dessa vez só com metade dos lábios.
-" Interessante.... me sinto num interrogatório. "  - Concluiu provocando a outra enquanto novamente mantinha seu olhar preso ao dela.

- " Seria um interrogatório de verdade se você respondesse ao menos uma das minhas perguntas. Mas você não o faz. Assim deixo-me concluir que é você quem esconde muita coisa de mim. O que acha disso?"

Penetrando ainda mais fundo o seu olhar negro naquele mais claro, respondeu:

- " Eu não procuro respostas como você. Eu deixo que as respostas venham até mim. - Olhou para seus pés, pausou um pouco e continuou: - Sabe Koi, talvez você devesse se deixar viver, sem tantas regras, sem tantas perguntas, sem tantos porquês. Eu não te dou cem porcento do que sou, por que não conheço tudo isso, mas eu te entrego cem porcento do que eu conheço de mim. Poderia fazer o mesmo comigo."

- " Eu me basto. "

E naquele ar ficou um silêncio. Destes que de tão vazios, deixam nos rostos a expressão perdida de não encontrar na infinidade de suas mentes, palavras para concluir e terminar.

 A maior levantou-se sem quebrar aquele silêncio. Sentou-se ao lado da pequena e repousou sua mão sobre a dela.
 - " Eu te basto 'pequena' . " - Apertando sutilmente a mão que situava-se sob a sua.

Novamente o silêncio reinou naquele quarto. A menor deixou-se escorregar levemente e recostar a cabeça no ombro da outra que tratou de acomodá-la e de acariciar os negros fios que desciam pelo caminho de seu rosto.

A menor olhou para cima e perguntou:
 "- E o que te basta ? "

" - Isso me basta.  " - Respondeu enquanto puxava a menor para seu colo.

Deixou que suas mãos repousassem na nuca daquela que situava-se em seu colo. E os lábios então se tocaram. Um frio e o outro quente.

Aquele contraste causava espasmos e arrepios por todo o corpo.

Não pareciam ter pressa. Permaneciam colando e separando os lábios como se  fossem morrer depois daquilo. Como se fosse uma despedida.
Separaram os lábios e deixaram os olhares ainda unidos expressarem os sentimentos não ditos.

A maior olhou para a mão da pequena , encarou-a e novamente mergulhou no fundo daqueles olhos, deixando-se repetir:


" Isso me basta  "



(...)








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