terça-feira, 29 de julho de 2014

Fragmentos do passado


Acabei achando meu antigo blog, então, aí uma pequena dose de nostalgia, rs
Tenho certo carinho por esse texto.O escrevi com uns 14 anos.Uma das épocas mais bizarras da minha vida, devo dizer.
Ps: copiei e colei porque sou preguiçosa :)

Apreciem:


"Contorcendo-se em um prazer ínfimo,
Deixa-se cair no chão escuro e frívolo, em desejos...
As mãos secando as lágrimas do íntimo,
Balbuciando gemidos, frêmitos...acerbos.

Um corpo atônito encolhendo-se em prantos...
Adormecendo um amor idílio e morto,
Cindindo calores, rumores de tantos...
Calando um sonho de um passado torto.

Sonhos levados, pouco a pouco.
Pele suada, corpo a corpo.
Morrendo junto aos sentimentos e sabores.
Estremecendo aos quentes toques e calores...
Apenas imaginando o fim da sinfonia azeda e das amarguras,
Sonhando com tais toques em sintonia...
recheados de doçuras...

Trazida em sons de gritos abafados.
Calando os beijos de carinhos apagados.
Nos lábios secos, enterradas as palavras,
de um dia beijos e paixões despertadas...


Não me olhe,
Não me toque e nem me beije.
Quero que me esqueça, porém que me deseje.

Quero deixar de amar-te.
E se puder matar-me, peço que me mate.
...Imagine que delírio apaixonante,
ser morta pelas mãos que enlouquecem-me,
lábios rubros de um sabor estonteante...
doce como a cereja que delicadamente...
entorpece-me."

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Receba então os meus pedaços. Parte 1.

Well... sobre o blog:
 se está procurando algo interessante, feche esta aba rs.
Já avisei! rs
Não lerá nada de interessante por aqui.Só um bocado de confusões mentais, um punhado de desabafos e um monte de palavões.

Por hoje, não preparei nada de especial.Somente acho que pode ser uma boa ideia, falar um pouco de mim, de um modo menos pensado.De um jeito menos metafórico, saca?
Já devem ter percebido que sou extremamente dramática e nem preciso tentar, para que minhas palavras soem como uma peça teatral ou um personagem babaca de filme adolescente.
Então, inspirada no post abaixo, quero deixar aleatoriamente algumas informações sobre esta pessoa que lhes escreve rs.Farei uma serie de posts, falando do que gosto em tópicos.Um tema por vez, porque como sou exageradamente indecisa, acabará sempre ficando algo imenso e só pra variar e combinar comigo, sem sentido :)

Escolhi então para hoje a música.Porque eu realmente não sei viver sem.Eu não penso direito sem uma trilha sonora de fundo rs.
Farei um top 10 das minhas músicas favoritas.E não se assuste com a falta de relação entre elas.


1° Sem dúvida alguma: Enya- Caribbean Blue

Essa música costuma mexer muito comigo.Me deixa bem "viadinha" shaushaushuahsuahsuahs.
.Faz com que eu me lembre de vários momentos da minha infância e com que eu me sinta acolhida, protegida.

2°: My Sweet Prince-Placebo.
Blah, nem precisaria falar nada.Quem me conhece sabe que tenho uma paixão filha da puta por Placebo,E essa música é sem dúvida alguma uma das minhas favoritas.Escutá-la faz com que eu consiga expulsar meus pensamentos e por de alguma forma a cabeça no lugar.Tanto que a grande maioria das vezes que escrevo, a escuto.

3°; The cure-Just Like Heaven.
Essa eu escuto 382835738573 vezes por semana.Nunca consigo enjoar, nunca consigo deixar de gostar da mesma forma.Robert é foda rs.E sempre faço as mesmas dancinhas babacas.

4°:Echo & The Bunnymen- The Killing Moon.
Essa é outra que eu curto pra caralho.E isso também se dá ao fato, dela estar em um dos meus filmes favoritos.


5° The Smiths- I'm So Sorry.
Essa não pode faltar na minha lista.Eu adoro!
6°.Joy Division- She Lost Control
Eu sou louca por Joy.Essa música em especial, contrariando tudo, me deixa feliz hsaushauhsuahsuahuahsuahsuahs ( Desculpa aí, Ian)

7° Radiohead- Paranoid Android
Radiohead também está na lista das minhas favoritas.Com essa música em especial.

8° The Frozen Autumn- Is Everything Real
Aí, mais uma das minhas bandas preferidas rs.E essa música, é uma das que mais gosto.
9° The Gazette-Cassis
Passei por uma fase j-rock na minha vida e dentre as várias bandas japonesas que eu escutava, essa era uma das minhas favoritas.Em especial essa música rs

10° Legião Urbana- Tempo Perdido
Ah, tem como não amar Legião? Essa eu acho que é daquelas que todo mundo canta se tocar rs. Gosto muuuuito!

Bom, é isso.As músicas não estão em ordem.Eu gosto pra caralho dessas, mas não nesta ordem específica. E como eu sou chata e cada dia estou de um jeito, é melhor dizer, que essas são apenas dez das minhas bandas prediletas.

Na próxima peça do quebra-cabeça, trarei meus filmes favoritos.

Té la :)



Quebra-cabeça


Como desdobrar o caos e fazer algo útil com a própria vida?Me diz.
...Se passaram mais de dois anos, voando tão rápido que me perdi por diversas vezes no percurso.

Será que a confusão continuará fazendo morada em mim pela eternidade?Me responde....


Duvido realmente que exista qualquer ser humano capaz de se auto-destruir tanto.De se mutilar tanto, de se torturar tanto.O tempo todo.
Qual o problema em ignorar o mundo?
Eu não sei viver de metades, já mencionei isso por milhares de vezes e no entanto, me toquei de que tudo o que sou é formado de pedaços, nada é inteiro.Absolutamente nada!

E na minha idiotice adolescente achava realmente que entendia alguma merda sobre mim mesma.Tava pouco me fodendo pro resto do mundo.Mesmo que tivesse certa revolta com toda essa tolice espalhada em todos os cantos, nunca dei a mínima.Talvez por desesperança e talvez também por preguiça.
O foda, é que eu acreditava que me conhecia, acreditava que poderia me fundir em teorias e viver disso.Respirar isso e me sentir menos infeliz dessa forma.Uma puta duma babaquice.
Eu não sou inteira em nenhum  aspecto.Sou um pouco de cada coisa, sou um resto de cada descoberta, sou uma célula de cada queda e um fragmento de cada um dos meus dias.Nada mais sou do que um ser formado por diversos pedaços, que nem se encaixam perfeitamente.
Sou um quebra-cabeças que não se forma, que não se termina, que não se completa.Grande parte das peças estão no lugar errado, e outras... nem se quer pertencem à mim.

De tudo, enxergo dualidades.De todas as coisas, me falta certeza.Pra todas as dúvidas, entrego ainda mais dúvidas e no final das contas, pra tudo respondo: " Talvez".Fico com ainda mais questionamentos.Não sei concluir nada com certeza... mesmo sabendo que todas as coisas do universo tem uma resposta.E possivelmente  só uma, eu crio milhares de possíveis caminhos pra tudo.
E se quer saber isso é uma bosta.Eu vivi por anos, uma ilusão desgraçada de mim mesma.Por anos, dizia repetidamente "Não aceito metades, quero intensidades e se não for inteiro... não quero!"
E hoje, me toco de que nada era inteiro.Eram empréstimos de alguma coisa que no fim, sempre acabava tão efêmero quando chegou.

Eu NUNCA dei espaço pras coisas permanecerem em mim por muito tempo.Nunca consegui manter um estilo de vida.Enjoava e fim.Tornava a mudar de novo.
Aí sempre acabava me matando mais uma vez, com o caos mental corroendo cada um dos meus pedaços e desmontando tudo que eu havia levado séculos pra montar.
Ali eu ficava, nua... desprotegida e frágil.E quando me levantava, nada tinha além de um punhado de dor e dúvidas.

E o que fazer com esses pedaços? Alguns tinha deixado por aí com outras pessoas.Esses, nem ao menos posso ter de volta.Doei... me doei por diversas vezes e não ganhei nada disso, além de algumas lembranças.
E essas, meus caros... na grande maioria das vezes, aparecem só pra assombrar rs
Não tenho outra saída além de curtir a derrota e quando me entediar disso, levantar.Erguer a cabeça e ir colocando os pedaços que eu conseguir em algum espaço que couber.
Já me conformei de certa forma em viver essa confusão toda.Quem vive como fração tem disso.A inconstância forma cada pedaço do corpo.E nunca existe um sim, nunca existe um não.A resposta pra tudo é sempre talvez.Até porque mesmo que eu me feche pras coisas, algum pedaço meu estará aberto pra receber alguma coisa da vida.
Amor Fati, me felicita um pouco e diminui minha dor.Me torna menos velha, menos reclamona.
E no final das contas, não existe outro caminho pra mim.Eu não sei ser diferente.Vou pegando os pedaços que caem por aí e tentando encaixar em algum lugar.O que não servir, jogo fora.

Ser uma pessoa confusa por natureza, é uma tortura diária.E eu hoje... sei que terei de aprender a viver, recolhendo meus cacos e reconstruindo-me de tempos em tempos.
Sou então, só mais um reflexo.Só pedaços amontoados e que vão se perdendo e se encontrando todos os dias.
Hoje acho isso, amanha, terei outra versão pra essa mesma história.E assim vou caminhando... sendo apenas mais um quebra-cabeça espalhado por aí.

quinta-feira, 6 de março de 2014

Retornando


"Você é livre?"

Essa pergunta vai e volta tantas vezes à minha cabeça que já virou eco, já virou canção, já virou monotonia...

A realidade da vida é que o que temos é simplesmente consequência.Não importa se queríamos ou não.Nesses últimos meses andei tão confusa que pensei que entraria em colapso à qualquer momento.Minha vida mudou rápido demais e mesmo que eu achasse que estava preparada, tomei um tapa na cara todos os dias e quando percebi, tava ali com uma vida nova e sem saber direito o que fazer!
Responsabilidades nunca foram problema pra mim.Mas apego sim. Eu tive que me apegar ao novo caminho, aprendi a amá-lo e fui seguindo meus dias, tentando me preparar.
Aí tu me pergunta... " Conseguiu ?"
Minha resposta é simples: " Não.Eu não consegui!" hsuashaushuahsuahsauhsaushaushauhsau

Well... e cá estou eu. Numa vida ABSURDAMENTE diferente da que achei que teria.Do que imaginaram para mim. 

Reapareci meus caros.Depois de mais de um ano sem escrever, estou aqui novamente. Já aviso. Isso aqui não é um texto legal, é só um comunicado para aqueles que sei que visitam o blog. 

Depois desses meses todos sem postar,  o que sobrou foram mais de setenta rascunhos e a minha falta de tempo MAS...
Eu tenho tentado colocar aos poucos as ideias no lugar e voltar à ativa. Afinal, escrever sempre foi o meu refúgio, minha terapia e por fim, tem alguns malucos que gostam de ler o que sai dessa cabecinha confusa.

E por hora é isso.Mais um desabafo e um jeito leve de voltar.Essa semana, provavelmente colocarei  novamente as bagunças mentais no "papel".

Até mais :)

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Anda!



Ouve-se um ruído rouco que estoura pelos tímpanos e vigora bem intenso num olhar que ali mora.
Longe, bem no fundo... em uma glândula qualquer do infinito que supera o medo brusco que criei.

Ouve-se um gemido baixo, fino que perdeu-se ali dentro como um pássaro assustado que teme até cair.
Perto, tem aquele que persegue e se alimenta e te alimenta com teu corpo, alma... padecendo em oração.

Sente, quem procura sente um frio que entra e penetra fundo, firme e faz morada em seu coração.
Não pensa, porque se pensar murmura e quem murmura chora e e esses segredos são melhores se trancar.

Mas guarda, bem no fundo tudo aquilo que pertence à alma fria, gélida que de tão cheia parece esvaziar...

Não existe nada que procure pra tampar o furo que o tempo deixa, rasga e amarga numa lentidão que marca.
Mas existe a doçura de um sonho rubro, quente como um lábio que tem sede ou como um colo que acalenta nas noites frívolas do trancafiar.

Então canta porque assim ao menos perde aquele sopro que caiu na palma da minha mão.Canta, memoriza as rimas, cria a melodia... que a sinfonia a lembrança traz.


Carrega nos braços seus caminhos.Seja os teus pés.
E mesmo que sangre permaneça em pé, que a estrada ainda tem lugar.

...Só me resta caminhar!...

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

É... tempo sempre passa, mas as coisas nem sempre mudam.


Pois é....
E hoje posso afirmar sem dúvida alguma que entendo o sentimento que se passa dentro daquele que desesperadamente quer expulsar de si todas as palavras marcadas de um tempo, em que só o vazio consome seu corpo.

Sim, meus caros... eu entendo.
Entendo certamente, também o que ele queria dizer quando me repreendeu por achar que falar de mim, o faria esquecer-se de seus tantos problemas. Ele sim é um sábio.

Não posso agir com modéstia, até porque essa não combina comigo. E devo salientar que a grande maioria da sabedoria que carrego e que luto para manter e diariamente formar e aumentar, ganhei dele. Sejam das palavras que ele sempre tentou me enfiar goela a baixo, das indiretas mornas que me mandava, ou até mesmo das sutilidades em que prendia-se entregando à mim, algumas dos aprendizados que teve.

É incrível como repetimos os nossos erros. Mas também é incrível a capacidade que temos de lembrar de cada um deles enquanto o ato é feito.
É foda...

Ultimamente tem me irritado cada vez que alguma pessoa tenta comparar-se a mim. Não existe isso. E depois que percebi quantas vezes devo ter irritado alguém com minha mania de achar que transtornos precisam de reciprocidade... Não precisam e nunca precisarão.

Alias, eu fui tola em todos os momentos em que cheguei a acreditar na mesma, a partir do momento em que não se tratava mais de intensidades à jogo.
Mas enfim, não podemos negar que agimos com tolices a maior parte do tempo. Essa palavra pode até ser um sinônimo de humano.

Hoje percebo também que talvez ser normal seja melhor, porque por mais insípido que pareça ser na minha mente, certamente é mais fácil.  E eu estou em um momento em que a única coisa que eu queria eram as facilidades...
Não sei.... já não sei  mais o que dizer....

Queria sumir. Passar novamente um longo período sozinha, longe de tudo e todos que me fazem criar toda essa destruição à mim mesma. Ainda bem que o tempo passou e ao menos me fez afastar de todos aqueles refúgios idiotas que eu havia acreditado que fazia as dores parecerem menores, parecerem mais sutis.

Bem, os prazeres ultimamente são pequenos, efêmeros como talvez nunca antes tenham sido.
Eu falo sozinha a maior parte do tempo. Eu brigo e discuto interminavelmente comigo mesma. Eu em algumas vezes deixo que os pensamentos finalizadores me consumam e isso nem me maltrata mais.
Chega a me fazer sorrir...

As promessas ainda existem e esse é o problema. Eu só quebro aquilo que não prometi olho a olho.
Ainda não tenho a capacidade de ser filha da puta a ponto de esquecer o momento em que juntei dois olhares e fiz uma promessa.
Cada dia estou pior, mas esse nível ainda não consegui alcançar...
Foda-se...

Mas o problema é que egoísmo não me desce. Não consigo suportar aqueles que fingem importar-se mas que visivelmente estão apenas à procura de um espaço para acalentarem-se. Achando por algum motivo que eu deva ser acolhedora. Bem, eu deixo avisado: não sou.

E se antigamente o que me importava era o compartilhamento de companhias, hoje nem isso. Não vou me alimentar de metades, de restos, de substituições. Não vou me enriquecer de desgraças, de caos e de inverdades alheias. Não quero me engrandecer de julgamentos, de esquecimentos e muito de menos das vontades dos outros.
To cansada de mim, então imaginem o tanto que quero me encher de outros. ( e para aqueles que não entendem, deixo claro:  foi ironia. )

Não tenho prazer no prazer dos outros. Não sinto dor no pesar destes. Não sinto saudade, não choro suas lágrimas e muito menos me deixo rir os seus risos.
Minha intensidade é outra e sempre estará ou trancada ou transbordando. Não existe nesse caso um meio termo.

E mesmo olhando nos meus olhos, lhes asseguro que será extremamente difícil tentar adivinhar o que se passa em minha mente.
E é bem aí que a grande maioria se engana comigo. Meu olhar é sempre quente.


Para mim o ruim não é refúgio, pelo contrário. O meu refúgio está naquilo que me dá a certeza de conseguir aquilo que eu quero pra mim. Eu não encho a minha cara pra esquecer de tudo, eu não fumo meu cigarro porque fazê-lo me deixa distante.  O que me serve de válvula de escape é simplesmente correr atrás daquele que meu futuro esconde.  Buscar aquilo que me levará aonde eu quero chegar.

Conversar sobre o passado e contar o que eu já vivi, nunca amenizará a dor que me segue e muito menos solucionará o vazio que me consome.
E o mais importante: ouvir o passado dos outros não me fará sentir melhor por mim, nem me fará sentir pena ou piedade do passado que os compôs.  Apenas me fará ter mais conhecimento sobre eles e entender o porque de serem quem são.

Aprendemos o que queremos aprender sempre. Eu não  tenho necessidade de formar verdades pra mim. Nunca consegui me enganar. Aquele fragmento bruto, sempre ficava trancado na minha garganta e mais cedo ou mais tarde eu o retalhava em qualquer canto, pra qualquer pessoa.
Se fosse fácil como as pessoas fingem ser, eu poderia acordar num dia comum e brincar de ser normal. Bem, na minha mente isso deve machucar. Brincar de ser o que não somos...
Crianças o fazem bem, uma vez que são desprovidos dessa racionalidade e por muitas vezes dessa consciência maldita que nos prende o tempo todo.

(...)

Well, texto de 22/05/12...
Tenho ainda 78 rascunhos e não acho nenhum deles apropriado, bom ou ruim o suficiente para ser postado. Sei lá, tenho que simplesmente gostar ou detestar, achar que tá na metade, me irrita.
Enfim, nada aqui dentro mudou, por fora só a falta de cigarro, ( há dois meses, devo citar) leiam... julguem e é isso.

terça-feira, 12 de junho de 2012

A flor.


(...)
Uma flor com pétalas já murchas havia sido deixada sobre a mesa;

A cor da flor já havia desbotado. E eu nem ao menos sabia que flor era aquela...
Mas sabia quem a havia deixado ali. Bem ao lado do meu maço de cigarros favorito. Em torno do maço de cor vermelha, havia uma fita de um tom escuro amarrada. 
Já a flor, estava ali, simplesmente largada. Como se o cigarro tivesse sido dado como mais importante. 

Segurei-a em mãos e uma das pétalas caiu por sobre o meu sapato. 
Olhei para eles. Um coturno velho com uma fita de cetim cor de vinho, usada no lugar do cadarço. A pétala continuou ali parada sobre o bico do coturno.

Estendi as minhas mãos e vagarosamente retirei a fita que envolvia o maço de cigarros, afastando o pó que pairava por sobre o mesmo. 

Fazia pouco mais de uma semana que eu não voltava pra casa. Então retirei um cigarro e o acendi enquanto com a flor ainda em mãos andei pela casa, com esperança de encontrar algo a mais, alguém a  mais. 
Nesse dia o silêncio não me era atraente. Mais a noite ainda era.

Saí da casa. Coloquei o restante do maço no bolso da jaqueta que vestia e com a flor ainda em mãos saí pela rua, andando em linha reta.
Parando em frente a um portão deixei delicadamente a flor do outro lado, passando com os dedos entre as camadas de metal que separavam aquele muro. Estendi os braços ao topo e pulei aquele muro. Já do outro abaixei-me peguei aquela flor, que agora havia quebrado no seu caule.

Continuei andando em linha reta. Vendo as fotos nas lápides, lendo os nomes nos ossários. Joguei o cigarro acabado ao chão. Pisei nele e dei mais alguns passos em tropeços até por fim, sentar-me sobre uma das lápides.
E como era bonito aquele tom de cinza escuro que a compunha. Como era bonita a foto que tinha no canto, como gostava do nome que havia escrito debaixo daquela fotografia.

Repeti por algumas vezes aquele nome. Sorrindo enquanto beijava delicadamente aquele flor, aspirando o aroma adocicado da mesma.
Olhei mais uma vez para a foto e estendi o braço, deixando repousar a flor ao lado do nome.

Eu não chorei. Não aquele dia. 
havia um mundo muito melhor do que aquele em que eu andava. Havia sentimentos muito melhores do que aqueles que eu sentia. Mas não haviam lembranças melhores do que aquelas que eu me recordava.
Podia sentir nos lábios ainda o sabor...

E eu então com uma das pétalas ainda em mãos eu pulei novamente o muro. Saí na rua e em linha reta voltei pelo mesmo caminho. Cambaleando ainda mais e ainda com aquele nome em mente. Retirei do bolso aquela fita que desamarrei do maço. Tratei de amarra-la em meu pescoço, junto ao colar que a tanto tempo eu carregava. Abri o pingente redondo do meu colar e la dentro coloquei a pétala.

Passei direto pela casa. Olhava para o chão, as vezes para a lua....

E eu ainda sorria. 
No final daquela rua, havia um cemitério. e no sentido em que eu ia, havia uma ponte. Pulei dessa vez a grade da ponte. Sentei-me sobre o ferro de tom avermelhado e enferrujado. Olhei para a água turva que ficava bem la em baixo. 

Deixei-me escorregar.
Havia um mundo muito melhor do que esse em que eu vivia. Havia sentimentos muito mais fortes enterrados. Mas não havia nada que pudesse fazer-me esquecê-los ou aprender a conviver com eles. 
Podia sentir no peito ainda a sensação...

No final daquela ponte a água movimentava-se vagarosamente...
eu segurava com as mãos o colar. Eu fechava meus olhos.

...Eu ainda sorria. 
...E eu ainda caía...

E aquela flor, murcharia ainda mais...



~~Inoue Yu