sábado, 21 de janeiro de 2012

Vigésimo Sétimo Encontro:




A sabedoria aparecia lúcida por entre a mente cheia de idéias vazias.
A monotonia fazia com que os dias parecessem se arrastar por entre os caminhos percorridos, fazia com que tudo fosse insípido, com que tudo fosse ignorado... desde as boas sensações à aquelas agonizantes, perturbadoras, gélidas e cortantes..

As vezes sabia disfarçar.... em outros momentos simplesmente chorava, gritava, quebrava os objetos que pareciam voar e grudar por entre seus dedos.. como se pedissem por um fim.

" - Deveria eu agir da mesma maneira. Adiar cada um dos momentos, excluir cada um dos instantes, adormecer de cada um dos dias, me afastar de cada uma das dores, abster-me de cada um dos sorrisos.... esquecer, dormir, morrer...

Tentava lembrar-se do azul do céu. Não lembrava-se de como eram os dias ensolorados e de imediato, pos-se a encarar a palidez da própria pele.
Sorria amargamente e sentia o sabor do sangue em seus lábios....

Rasgava pedaços da própria pele e sorria ainda mais, de modo cada vez mais insano...
Enlouquecia à medida que sua dor crescia....
Repetia nomes e nem ao menos se lembrava quais eram de pessoas que haviam passado por sua vida e quais eram de personagens que havia criado para tentar faze-la parecer mais interessante. Ou menos interessante.

Mencionava questões, dúvidas, pensamentos da mais porfunda insanidade, enquanto a dor parecia que estava cortando seu corpo ao meio.

Permecia sorrindo enquanto suas mãos movimentavam-se com rapidez. Encaixava a navalha entre o dedo anelar e o dedo médio,  passava-a na pele com força com raiva, com dor e sem medo.

O sangue escorria quente por sua  pele, que era da frieza mais intensa que  era possível para um ser em que o coração ainda podia bater.

Montava em sua mente os mapas do país inexistente que sua mente foi capaz de um dia criar. Pensava fortemente em seu nome, em seu cheiro, em sua ausencia de cor.
Gostava daquele lugar e estava forçando sua mente para manter-se imaginando-se lá.

" - Estranho. - Pensava enquanto diminuia a movimentação sequencial de sua mão esquerda em sua pele, rasgada em direções opostas.
Fitou o chão e com os pés riscou-o sem nem ao menos perceber oq fazia.

Sorria, sem abrir os olhos.
Pensava no quanto era criativo, em quantos enganou, pra quantos fingiu, pra quantas pessoas montou uma vida completamente adversa.
Aquele sorriso apagou-se do rosto.  Voltava a mensurar aquelas teorias bizarras que criava e organizava desde seus oito anos de idade.

Foi até a janela. Estendeu as mãos até seu maço de cigarro. Girou a caixinha de metal em mãos, olhando algumas palavas que estavam escritas ali. Não sabia o que estava escrito e nem o porque havia comprado aquilo.
Segurou um dos cigarros entre seus dedos. Acendeu-o entre os lábios e de uma primeira tragada sentindo intensemente a fumaça percorrer o caminho por dentro de seu corpo.

Novamente sorria.
Passou a lembrar de seus sete anos de idade. No primeiro gato que ganhou:


Seus olhos brilhavam encarando aquele gatinho negro. Havia tempos que pedia por ele.
Olhou para a sua mãe, abraçou-a e agradeceu pelo presente.
Virou de costas para ela e sentiu como se eu peito fosse invadido por uma sensação imensa de força. apertou o pequeno gatinho por entre seus dedos.. e levando os braços para trás em uma questão de poucos segundo, jogou o  animal na parede.


O sangue pastoso escorria por entre o cimento mal- alisado. O corpo  ainda com vida, retorcia-se deixando um som que parecia de pulmão corrompido voar pelo ar.
Sua mãe gritava enlouquecida, tampava os olhos.


O pequeno gatinho contorcia-se, dobrava-se e esticava-se, chorava, tremia e por fim, esticava-se e endurecia sem vida.


A mãe do também pequeno garoto, ia em sua direção, chorando lhe perguntava o porque daquilo.
Sorrindo o garoto respondia:
"- Eu queria fazer isso. Por isso pedi o gato."
Saia andando em direção a porta.
XxX

Saiu de seus devaneios e lembranças.
Seu cigarro havia acabado. Novamente esticou o braço e percebeu que a poça de sangue o havia seguido e pelo tamanho da mesma, percebeu também o quanto até as pequenas lembranças podiam prende-lo por longos momentos.

Lembrou-se agora da primeira garota com a qual havia se envolvido.

Como era doce.... e ao mesmo tempo obscura. Trazia o mistério mais profundo e louco que alguem poderia carregar.
Dizia as coisas mais estranhas para uma garota ou para qualquer pessoa dizer...
Era sociopata, era anti-social, tinha milhares de transtornos.... e carregava nada além de 16 anos.
Tinha os olhos do azul mais bonito que ele ja havia visto.
XxX

Pausou os pensamentos. Tragou o cigarro e sorriu.  Havia lembrado-se da cor do céu.

Voltou:
Ela tinha o cabelo do mais negro tom. Lembrou-se então da vigésima sétima noite que passaram juntos.
Não haviam se beijado nem uma vez, embora em diversos momentos paravam com os lábios à mínimos centímetros de distância.


Era uma noite chuvosa. E marcaram de se encontrar debaixo da árvore seca no cemitério.
Ao se encontrarem permaneceram com a mesma expressão, sentaram-se um de costas para o outro. Tovacam-se com a ponta dos dedos.


Lembravam-se do dia que haviam se conhecido... de como haviam se odiado por alguns segundos e após mergulharem no fundo do olhar do outro, haviam sentido algo estranho, que ambos definiram como  a descoberta de si mesmos.
Não sorriram. Apenas aproximaram-se e passaram a andar lado a lado.


Riam no vigésimo sétimo encontro. Deitados juntos na cama dela.  trocando crucifixos e tentando decidir quais iriam pendurar em seus pescoços para aquela noite.


Tomaram vinho.  E se encararam novamente para descobrirem um pouco mais sobre eles. E como um movimento que não fizesse parte de seus corpos, uniram os lábios num beijo que parecia até ser meio violento.


Após alguns segundos ela sorriu daquele jeito doce que conseguir expor somente para ele  e disse:
"- Bom... agora sabemos como somos hoje".
Ela inclinou-se e ele rapidamente tratou de capiturar-lhe os lábios e apertar-lhe um dos seios.


Com os lábios grudado aos dela, dessa vez ele sorriu. E como  se tivessem pressa, trataram de arrancar as roupas um do outro e unir também  todas as outras partes de seus corpos...
Ambos extremamente frios....
Sentiram as sensações mais entranhas. E ao fim daquilo, nús se olharam mais uma vez e juntos disseram que se amavam.
XxX

Voltou-se mais uma vez de seu devaneio. Abaixou sua calça e passou então a masturbar-se lembrando dos encontros seguintes com aquela garota.
Enlouquecia somente com as lembranças e em certos momentos deixava de movimentar-se por completo.

Parou com aquilo tudo. Fumou novamente um cigarro e ficou sentindo o vento frio pelo seu rosto.

Lembrou-se então da noite  anterior... das brigas, das discussões e de como a pele dela pode ser mais fria... de como ela sem vida ainda carregava a beleza mais forte que ele ja havia visto. De como o sangue dela escorrendo pelo seu corpo era nostálgico...
E de como matar aquela pessoa, que foi a única à qual pode amar, fez com que ele se sentisse mais forte e ao mesmo tempo mais fraco.

Foram exatos 27 dias após dez anos juntos. Ele olhou para ela rodopiando com seu longo vestido negro. Lembrou-se do seu pequeno gato negro...
E chegou bem perto dela, encostou seu lábios frios sem seu ouvidos:
" - Está linda. Hoje ainda mais do que ontem.
Passou suas mãos por cima do seu vestido, na região dos seios daquela mulher.


Ela o encarou de um jeito estranho.
"- Sabe o que te deixaria ainda mais bela?


Ficou um silêncio no ar por alguns segundos. Ela engasgou e respondeu negativamente.


Ele passou seus braços por entre a cintura dela, segurou-a, apertou-a e levou seus lábios até os ouvidos da moça:
-" Estar ainda mais fria.


Ela conhecia aquele homem. Compartilhavam da mesma loucura mas do que qualquer outra coisa. Ela estendeu suas mãos e entregou à ele a navalha afiada a poucos minutos e ergueu o pescoço.


Ele sorriu e sentiu um amor imenso por ela.
Sabia que não eram pessoas normais.... Nem havia como essa possibilidde ser real.
Então ele forçou-a e enterrou-a no pescoço da moça, ouvindi dela um engasgo ainda mais profundo e suas unhas apertarem seu braço... seu corpo debater-se... e após alguns segundos em que ele deixava-se sentar com ela no colo ninando-a ao som da canção favorita deles, sentiu-a amolencendo em seus braços e deixou-a no canto da parede.


Ria com a semelhança entre ela e seu gato.
XxX


Mais uma vez voltou de seu devaneio. pegou novamente a navalha.
Revirou-se em pensamentos obscuros e atormentadores.... Não sentia mais as coisas como antes..
Ajoelhou-se, xingou Deus por alguns segundos e xingou-se por sua visível hipocrisia nos segundos passados.

Esticou o braço e puxou aquele corpo, já meio azulado e ainda extremamente belo ao seu ver.
Deitou-se ao lado dela, e encaixou sua navalha por entre os dedos, frios, rígidos.
Seu rosto calmo, pareceu sorrir, ao segurar a navalha.
Ele soltou-a  nas mãos dela e fechou seu olhos...

Segurando os braços dela, colocou a navalha também em seu pescoço e procurou repetir com ele da mesma maneira que havia feito.
Cortou-a. Não debateu-se com ela, apenas caiu ao seu lado e nos últimos dos seus pensamentos clichês, pos-se  a encarara aqueles olhos azuis... agora como a noite.

Sentia a loucura corroer seu corpo e a  morte abraça-lo.
Não tinha mais força, não tinha mais vontade alguma... os olhos dela fecharam-se, delicadamente e os dele permaneceram abertos até o último movimento de seu coração.

Era o fim.... era o começo...
era o sabor que a maioria tem medo de experimentar...
era o fim de Paul, bem ao lado Marry.

Era o sonho, era a nostalgia, era a última realização...
era talvez a única verdade dos dois...

O fim pode parecer cuel as vezes....  Pode também parecer a única saída para medos, angústias e o vazio das vidas...
O fim não é nada além do término de tudo... O fim é o mais vazio de todas as coisas, é o abandono, é o adeus, é a amargura... é a doçura...

O fim para ambos, seria apenas o motivo de terem nascido...
O fim para eles foi apenas a sensação de prazer mais intenso que ja puderam sentir
.... depois do vigésimo sétimo encontro...

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