quinta-feira, 19 de abril de 2012

Transtornos



Naquele ar, pairava o aroma fétido da podridão que reina tudo isso a que pertencemos.
Não podia enxergar nada além de restos, mas ainda assim, ela permanecia boquiaberta como se todas as soluções pros seus dilemas estivessem guardadas, deixadas no oculto permanentemente silencioso.

Sorria, encarando o nada como se encontrasse toda a preciosidade naquela infinidade tão vazia. E amargamente, relutava para fazer-se plena e não permitir-se submergir em lembranças.
Não existia nada como aquele momento em que dava todo o tempo existente, para um paralelo que nem ela mesma havia descoberto.
Mas não se importava nem mesmo com o que ela pensava. Ela só fazia, ela só dizia e ela só pensava.

Sentia-se como uma camada vazia boiando, sobre todo aquele resto. Não se via inferior  e nem podia cogitar essa hipótese. Vivia em seu próprio mundo, cheio de palavras soltas voando docemente com o vento, cheio de coisas que só ela possuía, que só ela enxergava, que só ela sentia.

Não sentia mais em ninguém o desejo de compartilhar...
e assim lembrava-se de Nietzsche:" Minha solidão não tem nada a ver com a presença ou ausência de pessoas... Detesto quem me rouba a solidão, sem em troca oferecer-me verdadeiramente, companhia"

Sim, esta frase se aplicava perfeitamente aos seus pensamentos e sentimentos mais atuais. Ela sim, sabia o que era sorrir, somente para confortar alguém. O que era ajudar, quando queria ajoelhar-se e mendigar por uma ajuda....
Ela sim, sabia o que era guardar para sim toda a amargura que alguém pode ter em vida.

Mas nada dizia. Olhava para a camada tempórea que conseguisse enxergar e ainda assim sorria, olhando a fumaça branca do seu cigarro, mesclar-se com o negro da noite.

Transtornada dentro daquilo que a compõe, faz de cada dia uma vida nova. Cria personagens para apagar sutilmente o seu, que permanece solto, ignorada por ela mesma.

Não mais se importa com os valores céticos, com os valores morais, e nem mesmo com os éticos. Quer viver, quer sentir a intensidade que for capaz de sentir. Não apega-se a mais nada.

E assim permanece ela.
Sempre, falando de si mesma na terceira pessoa....
Sempre aleatoriamente criando seu mundo, montando seus passos, sonhando e acordando.
fazendo de si própria uma das palavras que voa pelo ar.





Nenhum comentário:

Postar um comentário